
"Hoje existe uma luz no fim do túnel, uma esperança", afirma a geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo (USP).
Existem células-tronco nos embriões, no cordão umbilical e também no organismo adulto.
"Cada vez mais vão descobrindo que nos mais diversos tecidos há células-tronco", explica Alysson Muotri, do Instituto Salk, nos Estados Unidos.
Tem até na gordura humana. Um grupo da Universidade de São Paulo (USP) encontrou um novo uso para o material retirado nas lipoaspirações.
"É um material muito fácil e muito abundante de se trabalhar. Se houver célula-tronco em gordura, vamos tentar isolá-las e ver o que elas conseguem fazer", conta a geneticista.
A cientista explica: "Nosso grande interesse é tentar transformá-las em células musculares".
O objetivo final é curar uma série de doenças muito graves dos músculos, as distrofias. Por enquanto, a transformação de uma célula de um tipo em outro tipo só deu certo na bancada do laboratório. O próximo passo é tratar camundongos que têm problemas musculares.
"Para ver se elas são capazes de conseguir uma melhora clínica nesses camundongos. Para ver se elas são eficientes e seguras, para um dia fazermos algum teste clínico em pacientes humanos", diz a pós-graduanda Natássia Vieira, da USP.
Uma pesquisa como essa da USP, que transformou célula-tronco de gordura em células de músculo, é um passo importante na área das células-tronco. Mas quando se fala em células-tronco, muitas vezes parece que estamos à beira de um milagre. Elas vão fazer os paralíticos andar, vão curar Mal de Parkinson, vão resolver problemas cardíacos, vão curar o diabetes. Mas será que tudo isso é verdade? O que existe de concreto em pesquisa e o que ainda é apenas uma esperança distante?
Os próprios pesquisadores sabem que uma aplicação prática ainda está distante.
"Eu imagino pelo menos uns cinco anos entre a prática e o tratamento clínico", calcula a geneticista da USP.
E para outras doenças, a cura estaria mais próxima? O brasileiro Alysson Muotri, que esteve em São Paulo nesta semana, trabalha num centro de vanguarda na pesquisa de células-tronco na Califórnia. Com a autoridade de quem conhece o que existe de mais moderno na área, ele é cauteloso, mesmo quando fala de tratamentos que já deram certo em animais, como os camundongos paralíticos que voltaram a andar.
"A gente tem que olhar isso com certo receio, porque o sistema de um camundongo, que é o mais bem estudado, não corresponde exatamente ao sistema humano", pondera o pesquisador.
Alysson estuda o sistema nervoso que é afetado por doenças como o Mal de Parkinson. Será que as células-tronco podem ser usadas para curar os males do cérebro? Não vai ser fácil, porque os neurônios, as células do cérebro, são de muitos tipos.
"São mais de 100 mil tipos de neurônio no cérebro. Então, para cada tipo de doença neurológica, existe um tipo de neurônio que é afetado", esclarece Alysson.
Não é questão so de pegar a célula- tronco embrionária e transformá-la em neurônio. É transformá-la nos 100 mil tipos de neurônio que existem. E aí, a ciência envolvida nisso está muito no começo.
Mas quais seriam as doenças com maior perspectiva de cura usando as células-tronco?
"Eu acho que, por exemplo, o uso de células de cordão umbilical para leucemia e de células da medula espinhal para o coração já tem sido mostrado e temos alguns resultados promissores. Por aí vai. A muscular talvez seja outra candidata. Eu acho que não podemos falar em nada menos de dez anos", analisa o pesquisador.
Nos laboratórios, os cientistas correm contra o tempo.
"Ainda é uma esperança, existe muita pesquisa básica para ser feita até lá", acredita Alysson.

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